Ainda...sobre o tempo do Império e seus bárbaros.
Sobre a flecha do tempo e a produção de bárbaros, copiei abaixo um trecho do livro "À espera dos bárbaros", de J.M. Coetzee, Cia. das Letras.
"O que nos impossibilitou de viver no tempo como peixes na água, pássaros no ar, como crianças? A culpa é do Império! O Império criou o tempo da história. O Império localizou sua exsitência não no tempo recorrente do ciclo das estações, que passa sereno, mas no tempo recortado de ascensão e queda, de começo e fim, de catástrofe. O Império se condena a viver na história e conspira contra a história. Só uma idéia preocupa a mente obtusa do Império: como não terminar, como não morrer, como prolongar a sua era. De dia, persegue seus inimigos. É astuto e impiedoso, manda seus sabijos para toda parte. À noite, se alimenta de imagens de desastre: o saque de cidades, a violção de populações, pirâmides de ossos, hectares de desolação. Uma visão louca, mas uma visão virulenta: eu, pisando no lodo, estou tão contaminado por ela quanto o fiel coronel Joll a perseguir os inimigos do Império pelo deserto sem fim, espada desembainhada para cortar bárbaro após bárbaro até afinal encontrar e executar aquele cujo destino seria (ou, se não o dele, o de seu filho ou neto ainda não nascido) escalar o portão de bronze do Palácio de Verão e derrubar o globo encimado pelo tigre rampante que simboliza domínio eterno enquanto seus camaradas lá embaixo dão vivas e tiros de mosquete para o alto" (p.176-177).
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